Carlos Rezende, praticante e pesquisador de montanhismo nos explica de forma didática um pouco sobre técnicas de ascensão e descenso em corda em arvorismo e canionismo.

" Apresento algumas possibilidades de articulação entre o arborismo e o canionismo, como resultado da minha experiência como pesquisador e praticante. As técnicas aqui mencionadas podem ser conhecidas com mais detalhe em artigos e vídeos publicados na internet.

Antes, apenas a consideração de que se é verdade que o desenvolvimento das técnicas nos limites culturais de cada modalidade contribui para o estabelecimento de padrões de comportamento úteis à segurança e efetividade dos praticantes, é também certo que a evolução das técnicas e a inovação geralmente ocorre a partir do conhecimento que excede aos limites de cada modalidade.

O diâmetro das cordas no arborismo é maior do que no canionismo. Enquanto no arborismo o padrão varia entre 11 e 13 milímetros, no canionismo é comum o uso de cordas com 9 e 10 milímetros. Parece que essa diferença está mais relacionada ao peso das cordas do que a carga de ruptura.

Embora possa ser considerado que no arborismo, a aproximação do local de prática pode ocorrer em locais distantes e de difícil acesso, em pesquisas de campo, por exemplo, o contrário é mais comum, especialmente quando se trata de manutenção de árvores em centros urbanos, em que os equipamentos são transportados em veículos motorizados.

Já no canionismo, a mochila de cordas é levada continuamente pelo praticante, desde a aproximação do cânion até o retorno. Nesse caso, o minimalismo na hora de definir o que levar é impositivo, pois a mochila interfere na efetividade do deslocamento. É possível, no entanto, que as cordas utilizadas no arborismo evoluam para diâmetros menores, mais fáceis de transportar e manipular.

No canionismo, as técnicas de descenso são predominantes, pois a ideia essencial é seguir trechos de água localizados em áreas de montanha. Por isso, as subidas em corda são eventuais e curtas. Por outro lado, a necessidade de escape pode justificar subidas mais extensas com ancoragens em árvores.

Essa demanda pode se apresentar também nos procedimentos de aproximação e retorno do cânion. Nesse tema, pode se afirmar que as técnicas de ascensão no arborismo caracterizam-se pela maior agilidade nas frequentes variações de subida, descida e deslocamento lateral.

O nó Blake, por exemplo, poderia ser uma alternativa para o canionista, pois permite realizar as variações acima mencionadas e não demanda equipamento extra. O nó Blake é um nó blocante feito em duas cordas do mesmo diâmetro. Foi difundido entre os arboristas a partir da década de 90, em substituição ao nó Tautline.

O uso do Blake pode ser feito com o complemento de uma pequena polia instalada com a função de empurrar o nó para cima. Mesmo sustentando o peso do escalador, o Blake permite a rápida e leve variação entre ascenso, descenso e deslocamentos laterais. Isso lhe dá um desempenho especial, mas também o torna perigoso para praticantes menos habilidosos.

Alguns equipamentos de ação múltipla para ascenso e descenso são bastante utilizados no arborismo. São denomidados ?multi ascenders? dentre os quais se destacam: rope wrench, rope rubber, unicenter, akimbo e bulldog bone.

Em que pese a consideração já feita sobre a redução dos itens transportados pelo canionista, cabe aqui citar os ?multi ascenders? para reflexão, especialmente pela agilidade e segurança que proporcionam ao praticante.

Esses equipamentos poderiam ser úteis na conquista de cânions, em que a instalação de chapeletas demanda estabilidade, precisão e agilidade nos procedimentos de ascensão, descenso e deslocamentos laterais.

Em relação à técnica ancoragem em árvores, presente nas duas modalidades, cabe aqui focalizar dois procedimentos. O primeiro refere-se ao recolhimento das fitas de ancoragem. Nesse caso, é comum no arborismo passar a corda em dois aros de tamanhos diferentes para que durante o recolhimento, um nó de rolha passe pelo primeiro aro, mas não pelo segundo.

Assim, a fita descerá junto com a ponta da corda recolhida. A técnica de recolhimento da fita à distância não é comum no canionismo, mas pode ser feita com sucesso. Basta utilizar dois aros em uma fita, sendo uma malha rápida e um mosquetão.

Nesse caso, caberia o cuidado ao puxar a corda, pois o nó de rolha pode se prender em rochas. O segundo procedimento refere-se à colocação da fita de ancoragem no tronco distante.

No arborismo, esse desafio é frequente e a solução é o lançamento de um pequeno peso de aproximadamente 250 gramas (trow line) amarrado a uma corda de 2 milímetros. Em seguida, através de uma técnica própria, a fita é levada ao ponto de ancoragem e a corda puxada para passar nos dois aros.

Esse método é bastante efetivo, mesmo nos casos em que os pontos de fixação encontram-se acima de 15 metros.

Enfim, são apenas algumas características e técnicas das duas modalidades, mencionadas aqui como pontos de interseção, na expectativa de focalizar a oportunidade de inovação resultante do diálogo entre os praticantes."

Carlos Roberto Alcântara de Rezende
Professor de Educação Física
Mestre e Doutor em Administração
Praticante e pesquisador sobre montanhismo
 
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